Analisamos a relação entre a desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar americano e o efeito no
quantum, em bilhões de dólares, nas exportações brasileiras entre 2011 e 2015. Para isso, foram mapeadas as variações cambiais e os valores das exportações no período, bem como fatores macroeconômicos relevantes à época, obtidos por meio de avaliações qualitativas. A metodologia estatística utilizada para avaliar a relação entre as variáveis foi a
análise de regressão. Acompanhe, a seguir, os desdobramentos dessa avaliação.
Observa-se, a partir de 2011, um movimento de depreciação cambial no Brasil. Para exportadores, uma indicação favorável! O câmbio pode ser um dos fatores de fomento aos negócios internacionais e, muitas vezes, é visto como um meio para corrigir desajustes domésticos como a falta de infraestrutura logística, a carga tributária elevada e outros fatores que impactam negativamente a competitividade das organizações no exterior. Nota-se ainda, a partir de 2013, uma ampliação no número de empresas exportadoras no país. Foram registrados cerca de 3% de expansão ao ano, em média, com pico de 6% em 2015.
Embora indícios de favorabilidade aos negócios internacionais façam-se presentes no período, registra-se queda, em termos gerais, em todos os setores, desde 2011, nos volumes, em bilhões dólares, exportados pelo Brasil. Seria esse movimento antagônico um fato isolado? Mesmo havendo mais empresas exportadoras no período e um cenário onde a taxa de câmbio permaneceu depreciada, por que o país exportou menos?
Parte desses antagonismos é, portanto, objeto de estudo dessa análise, que propõe avaliar se há relação entre a depreciação cambial e o volume das exportações do país, em bilhões de dólares, nesse período, assim como compreender se, paralelamente, há indícios de aspectos qualitativos de ordem macroeconômica, impactando a relação entre as variáveis.
O país registrou aumentou no número de empresas exportadoras entre 2013 e 2015. A existência de mais exportadores, todavia pode não significar expansão no
quantum, em bilhões de dólares, das vendas internacionais. Isso pode se dar pelo fato de que organizações tradicionalmente exportadoras podem ter exportado menos ou, ainda, podem ter sofrido desvalorização nos produtos costumeiramente exportados, como era o caso das
commodities, que registravam recuo nos preços desde 2013, sobretudo em função da desaceleração do crescimento da China à época. Por outro lado, é fato também que as taxas de câmbio no Brasil estavam em ascensão desde 2011, partindo de R$1,67 e alcançando R$3,33 em 2015, de acordo com os dados divulgados pelo Banco Central, em paridade com o dólar americano.
Cenário favorável aos exportadores brasileiros, que costumeiramente contam com a depreciação cambial como fator de competitividade às exportações, em equilíbrio ao custo Brasil (aos interessados, recomendamos a leitura do artigo:
"Câmbio e Competitividade", onde exploramos exclusivamente esse tema). Ocorre que, embora o cenário fosse favorável, houve queda nas exportações brasileiras entre 2011 e 2015. Somente em valor, em bilhões de dólares, o recuo chegou a alcançar 25%.
Ainda que houvesse depreciação cambial e que esse fenômeno fosse utilizado por parte dos exportadores para impulsionar as vendas internacionais, os números indicam que havia uma parcela de empresários que não se moveram nesse sentido, talvez por não se sentirem seguros na elaboração de projetos estruturados, de longo prazo, de exportação.
Naturalmente, um ambiente macroeconômico imprevisível, pode não conferir segurança para que o exportador invista em um ou mais projetos de exportação em longo prazo e tende a nutrir uma postura imediatista,
quiçá oportunista, que pode refletir em um cenário onde, ainda que haja mais empresários dispostos a exportar, as empresas exportam menos do que poderiam e, por vezes, pecam na regularidade, a fim de mitigar os riscos macroeconômicos. Situações que parecem refletir a conjuntura de negócios do Brasil em outras épocas.
Para a avaliação desse dilema e o entendimento sobre a relação entre as variáveis no período, foram contempladas 60 amostras. As exportações brasileiras, em bilhões de dólares, de janeiro a dezembro de 2011 a 2015 foram confrontadas com as taxas de câmbio (de compra) registradas pelo banco central, no mesmo período. No resumo dos resultados da análise, observou-se que o valor P (
p-value) foi estatisticamente próximo de zero, ou seja, dentro do intervalo de confiança de 95%, o que indica que havia uma relação entre a depreciação cambial e o volume das exportações. O R-Quadrado, por sua vez, apresentou valor equivalente a 32%, o que indicou que essa relação entre as variáveis era regular, portanto, esse modelo estatístico foi válido e poderia ser considerado para a análise. Por meio da leitura do resumo dos resultados acima, foi possível a obtenção da equação de regressão, destacada a seguir:
Y=25.540,19+(-2.727,92)*X Registrou-se um coeficiente de correlação negativa entre as variáveis de 0,56591, no período analisado. O resultado indicou que havia uma
correlação negativa moderada entre a depreciação cambial e o volume das exportações. Em outras palavras, quando houve aumento na taxa nominal de câmbio, deveria haver baixa no volume das exportações no período.
Em abordagens qualitativas, os empresários consultados acreditavam que giraria em torno de seis meses, depois de um movimento estável de depreciação cambial, para que houvesse algum efeito nas exportações. Isso porque, esse seria o tempo que um pequeno ou médio empreendedor levaria para mapear o mercado estrangeiro, sobretudo aqueles que não manteriam relacionamentos constantes com compradores internacionais.
O que os empresários consultados relataram, ainda que empiricamente, reflete a interpretação do coeficiente de correlação, que foi negativo, bem como a possível existência de histerese
(hysteresis) entre a depreciação cambial e as exportações, ou seja, o tempo médio esperado para que os empresários visualizassem aumento nas vendas internacionais, depois de um movimento de depreciação cambial. Tema que não será aprofundado, já que não faz parte do objeto de estudo dessa análise.
Esse artigo buscou avaliar pragmaticamente a relação entre a depreciação cambial e o volume das exportações brasileiras, não segmentadas, entre 2011 e 2015. Para a introdução do tema, foram expostos alguns fatores comumente indicados pelo mercado como propulsores ou de fomento às exportações, tais como o número de empresas exportadoras e o comportamento das taxas nominais de câmbio. Em seguida as exportações não segmentadas, em bilhões de dólares no período, foram apresentadas. Mostrou-se, portanto, um antagonismo entre as variáveis, já que a expectativa dos atores econômicos, em linhas gerais, não estava refletida nos fatos obtidos no período. Para compor as análises também foram contemplados posicionamentos empíricos.
Pôde-se afirmar, pelo método estatístico de regressão, que houve relação entre a depreciação cambial e o aumento das exportações brasileiras entre 2011 e 2015. Entretanto, as variáveis apresentaram uma correlação negativa, ou seja, quando a moeda americana esteve supervalorizada, as exportações não refletiram esse comportamento imediatamente e apresentaram um movimento inverso. Fato corroborado pelas análises qualitativas que também fizeram parte desse artigo. Por meio delas, foram colhidos indícios de que temas de ordem macroeconômica também podem interferir na relação entre as variáveis.
Adicionalmente, embora movimentos mercadológicos sejam um tanto previsíveis (inflação, taxa de juros, inadimplência, oferta, demanda, etc.), parte do empresariado brasileiro é impactada, talvez por falta de cultura exportadora e/ou desconhecimento das consequências desse comportamento, e tende a participar do cenário internacional tão somente quando há conveniência comercial. Isso torna imprevisível para a sua contraparte no exterior, o estabelecimento de uma relação saudável e de confiança, uma vez que a possibilidade de negociação pode sumariamente inexistir, caso o ambiente doméstico do exportador esteja mais favorável. Essa ação pode gerar perda de credibilidade no exterior, o que comprometeria negociações de longo prazo e a regularidade das exportações, em função de um raciocínio unilateral empregado por parte das organizações no Brasil.
Seria, talvez, um complemento relevante a essa análise, o mapeamento do comportamento das empresas importadoras e a relação entre a desvalorização cambial e as importações brasileiras no mesmo período. Registra-se que, inicialmente, o artigo proporia avaliar tão somente a relação entre a desvalorização cambial e as exportações industriais de alta intensidade tecnológica entre 2011 e 2015. Mas, a segmentação das exportações apresentou uma demanda inelástica, de forma que o comportamento quantitativo mostrou-se bastante equilibrado no decorrer do tempo e a análise de regressão, método estatístico utilizado nesse artigo, apresentou-se como um modelo inadequado para a avaliação. Portanto, optou-se pela análise não segmentada das exportações.
Versão simplificada compartilhada tão somente para reflexão de estudantes de Comércio Exterior e de profissionais que, eventualmente, apreciem nossas publicações! A análise completa faz parte da biblioteca da Braver.