A percepção de que uma moeda desvalorizada favoreceria as exportações, em uma primeira análise, sendo, inclusive, um dos pilares da economia chinesa desde meados de 1984, contrastaria com o fato de que uma moeda valorizada, favoreceria o investimento industrial e a aquisição estrangeira de insumos e bens de capital. O equilíbrio entre apreciação e depreciação cambial é tema recorrente entre economistas de diferentes vertentes. No Brasil, a falta de competitividade (não somente industrial) é costumeiramente "subsidiada" com estratégias monetárias, que passam pela desvalorização do câmbio, ainda que indiretamente. A aposta macroeconômica na depreciação da moeda e essa relação entre câmbio e competitividade é a pauta do nosso artigo.
No Brasil, a indústria vem perdendo espaço no PIB ano após ano, desde o fim da década de 1980. As entidades que monitoram o setor industrial alertam para a necessidade de reformas (tributária, administrativa), de investimento em infraestrutura e da elevação da "segurança jurídica". Há 40 anos, entretanto, o país vive momentos de apreciação e depreciação cambial e, em geral, a indústria segue em baixa. Parece que os "subsídios" e as desvalorizações da moeda, ao longo desse período, não foram capazes de reavivar uma indústria forte, que em sua era dourada chegou a alcançar quase 25% de participação no PIB. As recentes mudanças na legislação trabalhista, tão estimuladas pela indústria, tampouco foram capazes de transformar a produtividade das empresas.
Não obstante, o Brasil tributa fortemente a classe média e as estratificações mais baixas da pirâmide social, principalmente na aquisição de produtos e serviços, proporcionando um ambiente econômico iníquo, injusto. Há também o emprego de políticas de subsídio setoriais – que estimulam o
lobby (de grandes empresas – registra-se), e simulam uma melhoria de competitividade.
Em um ambiente de pandemia, em que, para além dos problemas conjunturais que o país enfrenta há bastante tempo, houve, ainda, desajuste das cadeias produtivas no mundo todo, acompanhado de tensão macroeconômica e inflação, por aqui, agrega-se o evidente despreparo da figura presidencial materializada entre 2019 e 2022 e o aparelhamento ideológico do estado, acolhidos pelo congresso nacional – em razão de seus interesses pessoais. A fragilidade da depreciação cambial em busca de competitividade também é evidenciada, quando o aumento do preço dos produtos industrializados para o consumidor final é desproporcional ao aumento do preço dos insumos utilizados pela indústria.
Um país produtivo tem, entre suas principais características:
- mão-de-obra qualificada;
- ambiente de negócios fluído e plural;
- infraestrutura adequada;
- carga tributária racional.
Oferecer uma política de crédito empresarial constante e responsável, que estimule a transformação dos parques industriais nacionais (e que, talvez, seja, majoritariamente, explorada pelos empresários em períodos de apreciação cambial), em conjunto com políticas intensas de facilitação de comércio exterior (ainda que, verifique-se um índice maior de utilização pelos atores econômicos em períodos de depreciação cambial), agregadas a um projeto de longo prazo, que abarque reformas administrativas e tributárias e investimentos em educação e infraestrutura, contribuiriam para um Brasil mais produtivo, independentemente da conjuntura cambial, que é muito importante sempre, para qualquer país, mas não deveria ser utilizada como principal fator de competitividade.
Por
Kaio Cezar de Melo, Diretor Executivo da Braver.