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Como funciona o Comércio Exterior da Coreia do Norte?

Internacional
01 de outubro de 2020
Tempo de leitura: 3 minutos
É sabido que a Coreia do Norte é uma das economias mais fechadas do mundo. Ironicamente denominada República Popular Democrática da Coréia, o país determina desde como sua população deve cortar os cabelos, até quando é permitido sorrir e falar alto. Um país que considera a realização de ligações internacionais como um crime contra o estado e que pune com sentença de morte quem é pego portando um filme americano ou sul-coreano, surpreende quando o assunto é o comércio exterior de serviços. A qualidade da indústria de animação norte-coreana é uma das mais altas do mundo. Hoje, mais de 70 empresas estrangeiras têm acordos com estúdios norte-coreanos. Mas como isso é possível? E as sanções internacionais impostas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas à Coreia do Norte?
  
Abastecida majoritariamente pela China, seu principal parceiro político e comercial, a Coréia do Norte exporta majoritariamente carvão, um ou outro produto químico, moluscos e têxteis. Mas o que tem chamado a atenção do mundo é o profissionalismo dos norte-coreanos na indústria de animação. A companhia estatal SEK, chegou a trabalhar em filmes como “Pocahontas” e até mesmo “Simba, o Rei Leão”. Segundo o Animation Career Review, os norte-coreanos ocupam a 85ª posição no ranking dos 100 estúdios mais influentes de todos os tempos.
 
Desde 1986, os estúdios de animação norte-coreanos vêm recebendo pedidos do exterior para a produção de desenhos animados em 2D e 3D. A estatal SEK, criada em 1957, tem mais de 1,6 mil funcionários e trabalha para vários estúdios europeus, embora não seja possível aferir a contribuição do país com o mercado mundial, em função da ausência de dados.
 
A qualidade da indústria de animação norte-coreana combinada com os baixos custos do trabalho na Ásia, tornam o país um destino atraente para quem quer terceirizar serviços de animação. É possível contratar engenheiros de software experientes por apenas alguns dólares por mês.
 
Vale comentar também que, na maioria dos casos, o cliente final não sabe sobre o envolvimento norte-coreano no processo de produção, isso porque a terceirização é feita com a ajuda de um intermediário. Muitos estúdios parceiros de Pyongyang também preferem não falar sobre o tema - principalmente em função do embargo imposto ao país pelos EUA, principal destino das produções desenvolvidas na Coreia do Norte.
 
No tocante ao comércio exterior de produtos, a Coreia do Norte não publica estatísticas, mas é possível ter uma ideia do perfil do país por meio da base de dados da ONU, que compartilha informações enviadas pelas alfândegas de todo o mundo. Os últimos registros disponíveis são de 2015 e apontam para os seguintes cenários:
 
  • Os intercâmbios da Coreia do Norte com o exterior ultrapassaram os US$6,5 bilhões.
  • As exportações norte-coreanas foram maiores do que as realizadas por Malta, Senegal, Líbano, Cuba ou Afeganistão, no mesmo período. 
  • A China consome 82% das exportações norte-coreanas e é a origem de 85% dos produtos que entram na Coreia do Norte. A dependência do gigante asiático é vital ao regime de Kim Jong-un.
  • Outros produtos norte-coreanos acabam na Índia, Paquistão ou Angola.
 
Do lado das importações, Pyongyang compra uma vasta gama de produtos: tecidos sintéticos, aparelhos de televisão, telefones, automóveis, pneus, computadores, óleo de soja e peixe congelado estão entre os mais procurados. Mas o que a Coreia do Norte mais precisa é petróleo. E, depois da China, Índia, Rússia e Tailândia figuram como os principais parceiros comerciais dos norte-coreanos.
 
O produto mais exportado é o carvão (35% das vendas), quase totalmente comprado por Pequim, além de têxteis (casacos, jaquetas, ternos, calças e camisetas de malha) para homens e crianças. O comércio de carvão mineral chegou a atingir uma receita de US$1,075 bilhão no período. Isso dá uma ideia do impacto que o cumprimento, por parte da China, de uma das sanções à Coreia do Norte, imposta pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, que estabeleceu uma quota máxima anual para as importações de carvão, pode causar ao país.
 
Outra característica do comércio externo da Coreia do Norte é que o país arrasta um déficit crônico, ou seja, compra muito mais do que vende. Como, há décadas, Pyongyang não pode se financiar nos mercados internacionais por meio da emissão de títulos, muitos se perguntam como é possível que o país continue sendo capaz de sustentar esse desequilíbrio estrutural. Os analistas apontam para uma combinação de vários fatores, sendo que: o investimento chinês no país, um mínimo superávit turístico em função das visitas de cidadãos chineses, as remessas enviadas pelos 50.000 trabalhadores norte-coreanos no exterior, a ajuda humanitária e os empréstimos sem juros oferecidos por seus aliados, poderiam estar ajudando o regime a compensar esse desajuste nas contas.
 
Além disso, a Coreia do Norte é apontada como a nação mais corrupta do mundo, logo ao lado da Somália. Em todo o país, menos de 3% das estradas são pavimentadas. A população norte-coreana vive entre a fome e a miséria, com um salário médio calculado entre US$150 e US$200 por mês, e a riqueza e o luxo, ostentados por seu líder supremo, Kim Jong-un.

Uma dicotomia ao desempenho dos norte-coreanos na indústria de animação, reflete-se na estimativa de que apenas 0,01% da população tenha acesso à Internet controlada. Há somente 28 sites liberados e comprar um computador, além de extremamente caro, demanda autorização do governo.