É sabido que os venezuelanos enfrentam uma situação econômica e política bastante complicada. Faltam alimentos, produtos de higiene, remédios. Falta democracia! O controle dos preços foi apenas um dos componentes dessa crise e, ao invés de evitar a inflação – como prometia o governo, culminou em desestímulo à iniciativa privada.
Sem investimentos privados, os produtos, aos poucos, sumiram das prateleiras. Além disso, com uma inflação que ultrapassa os 800% ao ano, de acordo com o UK Business Insider, a moeda da Venezuela já perdeu tanto valor, que uma parcela importante da sociedade tem contado com o mercado paralelo para encontrar insumos básicos.
Atualmente, a Venezuela enfrente uma crise humanitária gravíssima e os índices de desnutrição crescem exponencialmente. Consequência de uma política econômica inteiramente dependente do petróleo que, assistiu de camarote um aprofundamento severo da crise interna, sobretudo a partir da queda do valor do barril em todo o mundo.
Em meio a tudo isso, de olho na máxima de que "uma crise é uma oportunidade", alguns empresários apostam na criatividade para não perder seus negócios! Acompanhe, a seguir, uma pitada de curiosidade sobre a conjuntura empresarial venezuelana.
Você sabia que a Venezuela já foi um dos maiores compradores de whisky escocês do mundo? – A redução das importações permitiu que itens de origem local ganhassem espaço. Atualmente, o rum ganhou importância na economia, não apenas pelo intenso consumo local, mas também pelas divisas que sua exportação traz à Venezuela. O nobre cacau venezuelano, nesse momento, também integra a pauta de exportações.
Internamente, produtos secundários dominam as prateleiras.Marcas tradicionais desapareceram dos supermercados – as que ainda não sumiram por completo têm uma presença limitada ou são muito caras. Isso representou uma oportunidade para produtos venezuelanos, antes considerados até como a última opção diante de marcas privilegiadas. Nesse contexto, empresas menores entraram no mercado.
É o caso da Fácil Química. De acordo com seu presidente, Tony León, a empresa detém 35% do mercado de produtos de limpeza com a marca clic, lançada em 2012. “Antigamente, o governo estimulava as importações oferecendo subsídios cambiais para algumas empresas. Com a crise, o governo cortou as benesses e, empresas dependentes do governo deixaram de importar.” – comenta Tony.“Como a Fácil Química sempre operou sem a ajuda do governo, a falta de subsídio não nos afetou, ao contrário, abriu espaço.” – Diante da falta de componentes para empacotar seus produtos, a empresa desenvolveu e patenteou uma máquina que permite ao consumidor reutilizar recipientes e fazer refis dos detergentes – o que, segundo eles, permitirá vendas a preço mais baixos e contribuirá para a preservação do meio-ambiente. "Usamos a crise de uma maneira muito positiva. Foi ela que nos obrigou a inovar. A ideia é expandir esse tipo de serviço para América do Norte e Europa.", diz León.
E você sabia que o bitcoin tem despontado como solução para um número crescente de venezuelanos? – Pois é, bitcoins são um tipo de criptomoeda (ou seja, uma moeda da internet) que não tem um sistema centralizado de controle de trocas comerciais. Quem quer adquirir bitcoins pode guardá-las em uma carteira virtual para utilizá-las depois como investimento.
"Nas condições de mercado cheias de distorções, o bitcoin pode contribuir para lidar com essa situação em que a Venezuela se encontra", disse um "minerador" que prefere manter o anonimato. Minerador é o apelido de pessoas que cedem a capacidade de processamento de seus computadores como forma de manter a operação das bitcoins - os softwares usados para garantir segurança e legitimidade nas trocas comerciais precisam do apoio dos mineradores para poderem atuar. E eles ganham com isso um pagamento em bitcoins – que, por sua vez, têm um valor de cotação sobre as moedas utilizadas no mundo real.
Atualmente, a geração dessa moeda ganha cada vez mais adeptos diante da desvalorização crescente do bolívar. "Eu acredito que o volume duplicou no último ano", disse o minerador sobre o aumento da participação. Em 2014, um bitcoin era equivalente a 40 mil bolívares, enquanto agora ele está sendo negociado a 3,2 milhões. "Isso dá uma ideia do porquê tanta gente está procurando se proteger com o uso de bitcoins."
É um refúgio interessante em um país que tem o incentivo de ter a eletricidade quase gratuita, porque ela é subsidiada pelo governo. Os mineradores obtêm as moedas com o cálculo de operações complexas feitas com computadores especiais que podem custar entre US$ 600 e US$ 700. Um desses computadores especiais, que consome muita energia e é capaz de fazer 15 milhões de cálculos, pode gerar cerca de US$ 2,5 por dia em bitcoins.
Então se uma pessoa tem três computadores, por exemplo, ela pode lucrar US$ 7,5 em 24 horas ou US$ 225 ao mês. Um dinheiro bastante significativo em um país onde o salário mínimo é de cerca de US$ 30 por mês. "Para uma família modesta, isso é um excelente complemento", disse o minerador, que vê cada vez mais gente apelando para as moedas virtuais no país.